Verdades inconvenientes sobre a crise alimentar crescente

Postado por Fernanda Werner em

Cientistas há anos nos avisam que o sistema alimentar mundial está se assemelhando às vésperas da crise financeira de 2008. A pandemia de COVID-19 expôs as fragilidades desse sistema e revelou os problemas causados ​​pela interdependência entre os países. Em 2022, a crise alimentar foi acentuada devido a guerra na Ucrânia. O preço dos alimentos hoje estão tão caros quanto após a 1ª Guerra Mundial, segundo Índice de Preços dos Alimentos (FFPI) da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

Como todo o sistema alimentar ainda depende muito de derivados de gás natural e petróleo para nutrir, colher, processar e transportar alimentos, ainda veremos mais aumentos no preço final dos produtos no mercado. Isso, pois a crise energética decorrente da invasão russa já fez subir em 50% o preço do gás e em 53% o dos fertilizantes. Segundo o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a escassez de grãos e fertilizantes causada pelo conflito, somada ao aquecimento global e problemas de abastecimento causados ​​pela pandemia “levaram dezenas de milhões de pessoas à insegurança alimentar”.

Aumento dos preços de commodities após início da guerra na Ucrânia

Estudos feitos pelas Nações Unidas já concluíram que existem alimentos suficientes para alimentar toda a população do planeta, o problema é que ela não chega onde mais se precisa. E, claro, não poderia ser diferente, 98% dos que passam fome, vivem em países subdesenvolvidos. 

Antes da guerra chegar, a ONU alertava que 811 milhões de pessoas iriam para a cama com fome todas as noites ao redor do mundo, com o número dos que enfrentam a insegurança alimentar aguda tendo saltado de 135 milhões para 283 milhões desde 2019 em consequência da pandemia. Na mente de muitos na ONU estão os acontecimentos entre 2008 e 2012, quando a alta no preço de alimentos gerou instabilidade social, confrontos abertos e, para alguns teóricos, foram decisivas para abrir o caminho para a Primavera Árabe. No total, mais de 40 países traduziram a inflação daqueles anos em confrontos sociais e até na queda de governos.

A charge mostra os ditadores que foram caindo um após outro devido aos acontecimentos da primavera árabe

Por isso, é preciso garantir maior autonomia alimentar aos países, pois não existe uma coordenação internacional para responder a esta crise, que é um crise de acesso e de uma crise de regulação e coordenação. Teremos um impacto melhor se, por exemplo, pararmos a especulação sobre os preços dos alimentos a nível internacional, aumentamos os investimentos em agricultura sustentável com incentivo aos pequenos produtores. Só assim, teremos um desenvolvimento econômico justo, com mais pessoas tendo acesso a alimentos de boa qualidade por preços acessíveis. Caso contrário, podemos estar nos encaminhando para uma crise socioeconômica global só vista no pós 1ª Guerra Mundial.

No curto prazo, devemos pressionar por um conjunto de regras internacionais para limitar os impactos da crise. No médio prazo, devemos pressionar para iniciar uma mudança de nossos sistemas agrícolas, para torná-los mais sustentáveis ​​e diversificados, para alcançarmos a soberania alimentar e a agroecologia, como comenta Valentin Brochard, Diretor de Defesa da Soberania Alimentar da CCFD-Terre Solidaire.

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1 comentário

  • achei muito bom o texto!! Bom saber esses dados, precisamos estar atentos e críticos.

    Joice em

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